Para encher-lhe o coração e provocar-lhe indagações uma poesia de Alberto Caeiro.
O meu olhar é nitido como um girassol.
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
sinto-me nascido a cada momento para a eterna novidade do Mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo, mas não penso nele
Porque pensar não é compreender...
O mundo não se faz para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
Não basta abrir as janelas para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego para ver as àrvores e as flores.
Para ver as árvores e as flores é preciso também não ter filosofia nenhuma.
Procuro despir-me do que aprendi,
Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram,
E raspar a tinta com que me pintaram os sentidos,
Desencaixotar as minhas emoções verdadeiras, desembrulhar-me e ser eu...
O essencial é saber ver.
- Mas isso (triste de nós que trazemos a alma vestida!),
Isso exige um estudo profundo,
Uma aprendizagem de desaprender...
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